V

Ela se levantou. A sua frente apenas o abajur barato e o rádio relógio do motel na pequena cômoda.

Era difícil imaginar que estaria em um motel, daquele nível, pelo motivo que estaria. Cansada pela péssima noite olhou no relógio que marcava pouco mais que cinco horas. Dever cumprido.

Olhou ao redor, as cadeiras ainda reviradas. Sobre a mesa, apenas o jantar que fora preparado pelos donos do lugar como uma cortesia na noite anterior ainda estava inalterado.

“Preciso dar um jeito nisso tudo” – Pensou.

O cadáver do homem ao seu lado já começava a cheirar mal e o sangue espalhado pelo lençol fazia uma mancha demasiado grande que se misturava ao sêmen seco e nojento desperdiçado naquela noite por ele.

Em toda a sua vida, jamais tinha se imaginado fazendo o que fizera, mas quando entrou naquele motel com aquele homem, entrou convicta do que ia fazer, e não ia falhar, prometera a sua irmã.

Agora estava feito. O homem do pênis pequeno que fizera sexo com ela na noite passada achando que ela era apenas mais uma prostituta, jazia na cama. Jazia da mesma forma que sua irmã fora encontrada: indefesa, destruída, desonrada.
           
A imagem de sua irmãzinha veio-lhe a cabeça. À voz do médico dizendo que ela fora violentada e que não sobrevivera ao estupro.

Uma lágrima correu-lhe o rosto.
           
“Meu deus! O que foi que eu fiz!?”.
           
Lembranças da noite vieram: ela se aprontando com o vestido mais curto que tinha, maquiando-se, indo até o ponto de encontro, entrando no Aston Martin vermelho, subindo as escadas do motel, vendo o homem abrir a porta, jogá-la na cama, subir nela, penetrá-la, incansável, louco.
           
Tinha feito aquilo pela sua irmã.
           
Depois de ter atingido o orgasmo, o homem parou sorrindo – Gostou sua vadia? – Nesse momento ela já estava em cima dele com a calcinha na boca completamente nua – Adorei amor! “Quem não deve ter gostado muito foi você, quando estuprou minha irmã seu desgraçado!” – Horrorizado por ter reconhecido só naquele momento as feições entre as duas irmãs, o homem ficou sem reação. Quando percebeu já estava com uma calcinha enrolada em seu pescoço e mãos a seguravam tão fortemente que pareciam movidas pelo próprio Hulk e toda a sua ira. Lentamente foi perdendo o ar, que já estava rarefeito depois do orgasmo que tivera. Adormeceu – Sua vaca desgraçada!...Já não havia mais tempo.

Fizera aquilo por sua irmã, sabia que precisava fazer. Procurou no quarto imundo sua bolsa, de onde tirou o revolver que comprara há dois dias. Minutos depois, ouviu-se um barulho alto e seco no andar de baixo do motel. O quarto ficou mais sujo com um segundo tipo de sangue no lençol, e o cheiro de vingança misturado ao de dever cumprido pairava no ar.

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