No banco da praça

Era início de tarde quando ele chegou à praça. Valdo sentou-se como de costume na extremidade direita do banco e começou a alimentar as pombas.

Quando a viu, imaginou se seria ela mesmo. Viu sentar do seu lado, na extremidade esquerda do banco, Mariana, uma antiga amiga do colégio. Valdo se lembrava dela, fizeram a oitava série juntos. Apesar de nunca terem conversado direito ele sempre a cumprimentava. Será que ela se lembrava dele?

“Bem, só tem um jeito de eu saber”- pensou – “Vou puxar conversa!”.

Valdo não era muito bom nessas coisas de puxar papo, sempre se enrolava e ficava sem graça. Sabia disso e começou a pensar:

“Talvez o clássico Que horas são? Ela olharia e se lembraria daquele Valdo que engasgava na hora de apresentar os seminários, olharia e veria o Valdinho da escola que todos riam a cada bronca que levava da professora por ter esquecido o dever. Lembraria?”.

Valdo calculou que a probabilidade disso acontecer não era muito grande, Mariana, na época, era apaixonada por Fernando e, sendo assim, não teria olhos para outro menino na sala, mesmo se tivesse, não seria um olhar próximo o suficiente para lembrar-se do Valdinho vendo agora um homem barbudo com óculos de fundo de garrafa. Além disso, havia também a Ana, velha amiga de Mariana que não gostava nem um pouco de Valdo e sempre dava um jeito de tirá-la de perto dele. É, isso diminuía significativamente a porcentagem de reconhecimento caso usasse o clássico “Que horas são?”.

Bom, se não ia usar o “Que horas são?” usaria o que?

Valdo pensou então em ser direto: “Oi, Lembra de mim? Não, já era tarde para puxar conversa com esse tipo de papo, coisa de quarta serie”.

“Talvez se levantasse e esbarrasse no colo dela só para ver se ela da uma olhada. Não, passaria muita grosseria”.

Como iria puxar papo então? Para Valdo era mais que difícil essa tarefa.

Ele se lembrou de outra amiga, Gabriele era o nome, ou seria Gabriela com “A”?

Podia começar uma conversa com o nome dela. Se pelo menos soubesse o nome certo... E se chamasse só de Gá? “Oi, quanto tempo, como vai a Gá? Não, passaria intimidade demais”. Nem falava com a Gá direito, outra que achava Valdo bastante estranho.

Como diabos puxaria uma conversa então?

“Vou começar a cantar!” – pensou – “Não, ela pode não gostar da musica e sair do banco, daí quando eu vou ter outra oportunidade dessas? Não, cantar não”.

“Nossa que banco desconfortável não?” o que ela responderia? “Claro que não, é confortabilíssimo seu velho rabugento”. E realmente o banco era bastante confortável.

“Que tal o bom e velho: Tá calor aqui não? Não mesmo, estava nublado, aliás, ia chover!”.

“É melhor perguntar as horas mesmo, chances remotas são melhores que nada”...

- Por favor, que horas são? – disse imediatamente, sofrendo para expelir cada palavra.

- Duas e dez – respondeu uma voz grossa na extremidade esquerda do banco.


A voz provinha de um homem de terno fino que aparentava uns vinte anos e deixava claro que Mariana já tinha saído daquele banco fazia algum tempo.

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