Aniversário

Era fim de tarde.

A velha senhora estava na varanda a observar o sol se pôr. Sentada sozinha na cadeira de balanço onde estivera o dia todo, olhava a cor alaranjada que tomava conta do céu e servia de inspiração para alguns dos poemas que escrevera no passado sobre a solidão.

Apesar do aniversario, para ela, era um dia mais triste do que longo. Uma data que não representava a passagem do tempo em sua vida – quem dera fosse somente isso – representava também mais um ano distante daquilo que sonhava quando era uma criança.

Mais um ano distante de muita coisa que achava que lhe era devido, que amava e que, por consequência da vida que escolhera, não lhe pertencia mais.

O dia todo esperando uma ligação que não veio. Não recebera nenhuma mensagem de felicitações. Claro, de quem receberia?

O celular ao lado jazia como uma murcha flor. Plantado. Inerte.

Se fosse uma rosa, teria desmanchado, não pelo mau tempo, mas pelo nostálgico olhar para o horizonte que ela dava.

Se fosse humano, sentiria angustia pela pobre velha ali sentada.

Ela gostaria muito que ele fosse humano.

Mas era só um aparelho, que agora descansava suave ainda dando a ela a esperança de que vibraria a qualquer momento.

A velha senhora lembrou-se dos bolos, lembrou-se das festas. Lembrou-se que nada daquilo jamais fez sentido. Como podia? No dia do seu aniversario não conseguiu sorrir uma vez se quer. Sim, faltava algo, um espaço vazio precisava ser preenchido em seu coração.

E quando a primeira lágrima – não se sabe dizer se consequência da saudade ou da solidão – fez menção de surgir em seu rosto, o celular vibrou.

 Lentamente e já sem esperanças, ela desbloqueou-o e olhou a mensagem que dizia apenas “Parabéns”, terminando com a famosa carinha formada pelos dois pontos e a letra D em maiúscula. “Um tanto infantil demais” ela pensou.

Serviu para dispersar aquela lágrima, por mais que ainda não tivesse a feito sorrir.

A aniversariante permaneceu ali, relendo a mensagem por alguns segundos. Sabia que não conhecia ninguém vivo que relevasse sua existência, tampouco o seu aniversario. Não era amiga de ninguém. Há tempos perdera todos os familiares e pessoas próximas por causa do álcool e da luxuria. Não fazia ideia de quem era o remetente.

Na curiosidade que se abateu, pegou o telefone e respondeu de súbito: Obrigada! Mas quem é?

A mensagem nunca foi respondida, mas seu remetente deitou com a cabeça tranquila no travesseiro quando leu a resposta. Ele sabia que, apesar de fazer parte de um passado bem distante, ainda era ele quem preenchia o vazio do coração daquela que ele amou muito antes de se tornar uma prostituta. 

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